quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Folha do Vale relata detalhes sobre assalto ocorrido em Curral Velho

Apenas 1 para contar a história, que pode levar outros à cadeia.



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Risada tombou morto em confronto com as Polícias Civil e Militar.



Curral Velho(PB) - Há quase um ano, Curral Velho está sem delegado e apenas dois policiais militares fazem a segurança do município. Diante de uma segurança pública tão frágil e precária, os seis homens que assaltaram a prefeitura na manhã do dia 26 de janeiro não imaginavam que fossem encontrar qualquer dificuldade para consumar o crime, mas enganaram-se  não desconfiavam que seus passos e planos estavam sendo monitorados.

Mas quando saíram de dentro da prefeitura carregados com pouco mais de 74 mil reais deram de cara com um pelotão inteiro: 24 homens da guarnição do Choque da cidade de Patos, fortemente armados e já apostos para o combate, esperavam os criminosos do lado de fora.

Foram mais de dez minutos de uma intensa troca de tiros e um saldo trágico para os meliantes: apenas um sobreviveu e continua internado sob custódia policial no hospital regional de Patos devido a uma grave lesão no braço esquerdo. Nenhum militar ou funcionário municipal foi ferido durante o confronto, mas o pânico tomou conta de todos os servidores municipais e pessoas que se encontravam na prefeitura.

Eu fiquei apavorada e todo mundo deitou no chão por ordem dos bandidos, e eu vi quando um deles botou uma arma na cabeça de uma mulher que não podia baixar porque estava com uma criança nos braços”, conta uma dona de casa que se encontrava no local no momento do assalto.

O prefeito Luiz Carnaúba não estava no município na hora do fato, chegando momentos depois que a polícia já havia frustrado o assalto. Conforme o capitão Campos, que comandou a operação, os preparativos para o assalto começaram dias antes em João Pessoa, onde um veículo Renault Clio foi roubado para a execução do crime.

Mas as informações do plano do assalto chegaram ao conhecimento do setor de inteligência da Polícia Militar, que começou a levantar dados e monitorar os passos dos elementos. Dias antes do crime, o carro roubado em João Pessoa foi visto circulando pelo município de Curral Velho, onde o capitão Campos e seus comandados chegaram na manhã de 26 de janeiro preparados para um possível enfrentamento.

Pelas informações que tínhamos e uma ligação telefônica anônima, tudo indicava que os bandidos agiriam naquele dia na cidade, e, embora não tivéssemos seguros disso, fomos preparados”, comenta o capitão, ao avaliar que a operação foi exitosa, já que a polícia conseguiu aniquilar a quadrilha sem nenhum policial ou cidadão de bem ficar ferido, e ainda recuperar a maior parte do dinheiro roubado, 48,7 mil reais.




O restante, cerca de 26 mil reais, continua desaparecido. Dos seis homens que executaram o assalto, cinco são de João Pessoa e um é de Curral Velho: Juvenil Ferreira de Sales, conhecido por Juca(Foto acima), que tinha 34 anos e era casado. Ele residia no sítio Coelho e foi um dos cinco mortos pela polícia.

Apesar de fortemente armada(os bandidos estavam com cinco pistolas, duas delas de uso restrito das forças armadas, quatro espingardas calibre 12, duas delas de repetição, dois revólveres e vestiam coletes à prova de bala), a quadrilha não resistiu por muito tempo ao cerco policial, e três morreram na hora: além de Juca, Adriano Lima da Silva, de 19 anos, que residia em João Pessoa, e um homem conhecido como Fábio, supostamente também da capital.

Surpreendidos pela polícia, alguns dos assaltantes não chegaram nem a disparar suas armas, mas o capitão nega que tenha havido excesso por parte da polícia. Três deles conseguiram fugir em uma caminhonete L-200 em direção à Manaíra, mas não foram muito longe: um outro grupo de policiais apostos nos arredores da cidade interceptou o carro à bala, obrigando os fugitivos a abandonar o veículo, as armas, o dinheiro, suas bolsas e entrar no mato.


Dois foram feridos, um dos quais, Flávio Félix(Foto acima), de 24 anos e também residente em João Pessoa, foi encontrado morto no dia seguinte, 27 de janeiro, no sítio Cipó, município curralvelhense, a pouco mais de três quilômetros da cidade. Apesar de gravemente ferido com um tiro na barriga, ele conseguiu caminhar vários quilômetros, mas não progrediu na caminhada por não conhecer o município e terminou não resistindo aos ferimentos. “Nós o encontramos em um descampado com um tiro nas imediações do abdômen e já sem vida”, comenta o agente de investigação Francisco Renato Júnior, comissário de polícia de Curral Velho.

Revelações importantes
Também no sítio Cipó, no final da tarde do mesmo dia, as polícias Militar e Civil de Itaporanga, graças à ligação telefônica de um morador, que disse ter visto um homem ferido andando pelo setor, prenderam Sandro Barbosa Bezerra, vulgo Mandacaru, que tem 27 anos e morava no Jardim Veneza, na capital.

Foi o único sobrevivente(Foto). Era ele quem dirigia a caminhonete na hora da fuga e disse que não chegou a disparar um único tiro, apesar de armado com duas pistolas. Ele está ferido na mão e pé esquerdos, mas prestou depoimento ao delegado Glêberson Fernandes na última sexta-feira(05 Fevereiro 2010), na companhia de sua advogada, Divani Pinto, e fez revelações importantes, apesar da preocupação demonstrada ao delegado de que seu depoimento atinja “gente grande”.

Conforme Mandacaru, o assalto foi articulado por Juca e um outro rapaz apelidado de Chumbinho, ambos mortos durante o assalto, mas ele não confirmou o que havia dito informalmente aos policiais no dia em que foi capturado: “Inicialmente, ele envolveu um Ricardo, que supostamente cumpre pena no presídio de Jacarapé, em João Pessoa, e que teria fornecido as armas para o assalto, mas no depoimento, ele não confirma isso e também não confirma que as armas tenham chegado à região por um ônibus”, comenta o delegado.

Mandacaru revelou também, em seu depoimento, que ele e os outros quatro comparsas viajaram de João Pessoa a Patos, de onde foram trazidos à região por um homem de Santana de Mangueira, cujo nome é mantido em sigilo para não atrapalhar as investigações. Segundo ainda o acusado, os elementos chegaram a Curral Velho horas antes do assalto no Renault Clio roubado em João Pessoa, mas já próximo à cidade abandonaram o veículo e tomaram por assalto uma caminhonete L-200, que pertence ao odontólogo manairense João Édson Tavares, contratado da Prefeitura curralvelhense.

Mandacaru contou ainda que foi ele próprio quem retirou a sacola com o dinheiro da Prefeitura, mas diz que não chegou a sair com a quantia roubada, supostamente de 74,7 mil reais. “Ele diz que quando começou o tiroteio, abandonou o dinheiro e saiu correndo”, informa dr. Glêberson, mas, inicialmente, o acusado disse à polícia que tinha deixado o dinheiro dentro do carro no momento que abandonou o veículo.

Do numerário roubado, 48,7 mil reais foram recuperados pelo policiamento de Patos. O restante desapareceu e não foi encontrado com os assaltantes. O dinheiro seria para o pagamento do mês de janeiro do funcionalismo municipal, mas parte dos servidores já havia recebido. A maioria do funcionalismo, no entanto, precisou aguardar a devolução à Prefeitura do dinheiro recuperado pela polícia, quantia que foi complementada pelo Município para quitar toda a folha.

Casal tentou resgatar fugitivo
Se os policiais tivessem demorado a encontrar e prender Mandacaru, ele poderia ter sido resgatado por pessoas da região envolvidas intelectualmente com o assalto e que estão sendo investigadas, conforme a polícia.

E sabendo, antecipadamente, que alguém viria resgatá-lo a mando de um homem que está sendo investigado por dar apoio aos criminosos, a polícia montou campana no local e prendeu em flagrante o casal Manoel Pereira Sobrinho, de 37 anos, e Martelândia Pereira de Sousa, de 27 anos.

O casal estava em uma moto e parou exatamente no local combinado com o fugitivo por um telefone celular, mas tanto o homem quanto a mulher negam veementemente que estivessem intencionados a resgatar o acusado. O casal reside no sítio Fazenda Nova, também conhecido por Jenipapo, município de Santana de Mangueira.

A mulher disse que é mãe de quatro filhos menores e estava sendo conduzida pelo marido para a cidade de Curral Velho, onde buscaria atendimento médico porque estava se sentindo mal. Mas, conforme a polícia, ela não falou a verdade e acompanhava o marido na tentativa de resgatar o fugitivo para não levantar suspeita por se tratar de uma mulher. “A intenção era levar o fugitivo entre os dois na moto, mas o plano fracassou”, revelou o comissário Renato.

A morte do último fugitivo
Com a saída do policiamento patoense da cidade de Curral Velho, horas depois do confronto, um grupo de homens das polícias Civil e Militar de Itaporanga, comandado pelo tenente Paulo e o comissário Renato, assumiram a seqüência da operação, já que havia ainda três elementos foragidos, dois dos quais feridos.

O primeiro foi encontrado morto e o segundo capturado com vida. Restava apenas um, exatamente o único que não havia sido ferido, mas o fugitivo não foi muito longe. Na madrugada do dia 29, três dias após o assalto mal sucedido, caiu o último remanescente da quadrilha: ele estava escondido no sítio Catolé, município de Manaíra, que se limita com Curral Velho.

Risada(Foto), como era chamado pelos seus comparsas e supostamente morador de João Pessoa, resistiu à prisão e trocou tiros com os policiais de Itaporanga, mas não conseguiu escapar. Seu corpo foi levado para Princesa Isabel e de lá para o Instituto de Medicina Legal(IML) de Campina Grande.

Com ele não foi encontrado nenhum documento, o que impossibilitou sua identificação, a exemplo do que aconteceu também com um dos três homens mortos durante o assalto, supostamente chamado Fábio.

Armas e carros apreendidos
Todas as armas e os dois carros utilizados no assalto foram apreendidos pela polícia. Os dois veículos foram entregues aos seus proprietários, enquanto que o armamento foi periciado e encontrasse à disposição da Justiça.

Investigações continuam
A polícia não tem dúvidas de que, além de Juca, que articulou e participou do assalto, há outras pessoas da região envolvidas intelectualmente no crime. Alguns nomes revelados pelo único assaltante que sobreviveu à ação policial estão sendo investigados. “O caso não foi encerrado com a morte dos cinco bandidos e a prisão do único sobrevivente: as investigações estão sendo seqüenciadas porque há suspeitos de envolvimento no assalto ainda soltos”, comenta o dr. Ivaldo Dias, delegado regional da Polícia Civil.


De acordo com dr. Dias, todos os cinco homens mortos e o que se encontra preso tinham passagens anteriores pela polícia. Conforme apurou a Folha, pelo menos quatro dos seis homens respondiam a processos na Justiça paraibana: Flávio Félix, por exemplo, respondia por crime contra o patrimônio em João Pessoa, fato ocorrido em 2003.

Adriano Lima da Silva também respondia por crime contra o patrimônio, na capital. O delito foi cometido por ele em Mangabeira em 2008. Contra Sandro Barbosa Bezerra, único vivo, também há um processo por crime contra o patrimônio em João Pessoa.



O único homem da região que participou fisicamente do assalto, Juvenil Ferreira, o Juca, respondia por disparo de arma de fogo na comarca de Itaporanga, fato ocorrido em 2005. Sobre os outros dois homens, Risada e Fábio, não foi possível nenhuma informação porque eles ainda não foram devidamente identificados pela polícia.


Todos os mortos foram levados para o IML de Campina Grande e, depois de exame cadavérico, postos à disposição de suas famílias. Mas na delegacia regional de Itaporanga apenas a família de Juca compareceu para pegar a documentação do homem e reivindicar o corpo do seu ente querido, que teria dito à esposa que algum dia quando morresse queria ser sepultado em Santana de Mangueira.
* Transcrita da Edição nº 163(Ano IX - De 20 de Janeiro à 09 de Fevereiro de 2010) do Jornal Folha do Vale. O jornal de maior circulação na região do Vale do Piancó, no sertão do Estado da Paraíba.






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