A BBC destaca que que Via Crúcis, do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, e Avareza, do também jornalista Emiliano Fittipaldi, mostram que o pontífice enfrenta imensa resistência nos altos escalões da Igreja Católica para implementar sua filosofia de mais frugalidade e austeridade nos gastos. Os dois autores fazem alegações – às quais a Associated Press e o The New York Times tiveram acesso – que sugerem um péssimo gerenciamento financeiro na Santa Sé, com direito a suspeitas sobre algumas operações.
Suas informações teriam como base documentos secretos obtidos juntos a alguns círculos do Vaticano. No fim de semana, o monsenhor Lucio Angel Vallejo Balda e a leiga Francesca Chaouqui, que trabalhava no departamento de relações públicas do Vaticano, foram presos sob a acusação de terem furtado material de uma comissão instaurada pelo papa em 2013, poucos meses após sua eleição como sumo pontífice, para apurar os gastos da igreja.
Uma das alegações mais graves feita por Via Crúcis é o destino do dinheiro do dízimo arrecadado em paróquias ao redor do mundo. Segundo Nuzzi, de cada 10 euros que chegam à sede da Igreja Católica, seis são consumidos com as despesas operacionais do Vaticano.
Chaoqui (à esquerda) e Balda foram presos, sob a acusação de roubar documentos
O escritor diz ainda ter obtido provas de um esquema de vendas de canonizações e beatificações pela Igreja, sob o qual meio milhão de euros poderia fazer com que algumas santificações ligadas a doações mais substanciais “furassem a fila”. Outra alegação de Nuzzi é de que o portfólio de imóveis do Vaticano valeria 2,7 bilhões de euros, valor sete vezes maior que o declarado nas contas da Santa.
Nuzzi (à esquerda) e Fittipaldi dizem que burocracia do Vaticano “trava” reformas do papa
Fittipaldi faz alegações ainda mais graves: em Avareza, ele relata um suposto episódio em que 200 mil euros teriam sido desviados do orçamento de um hospital infantil mantido pela Igreja para custear uma reforma no apartamento do cardeal italiano Tarcisio Bertone, que de 2007 a 2014 foi uma espécie de vice-papa e uma das figuras mais poderosas da fé católica.
Em entrevista ao jornal Corriere della Sera, o cardeal chamou a acusação de “calúnia” e “uma vergonha”.
As acusações, se confirmadas, podem revelar um quadro preocupante: Francisco não estaria conseguindo fazer com que muitos de seus colegas religiosos adotem sua rotina de frugalidade. Desde que assumiu, o papa tem feito da austeridade algo próximo da obsessão, a ponto de ter aberto mão dos luxuosos apartamentos papais, por exemplo.