Naquela noite de insônia e sono letargo, como se eu tivesse entrado no túnel do tempo e retornado ao passado, entre reminiscências fui-repassando a minha convivência com Luiz Benedito. Ele foi o meu alfaiate e confeccionava minhas roupas domingueiras em linho terbrin e mescla, sempre na companhia do seu cunhado, o saudoso Danúbio, figura engraçada e ainda mais um dos maiores pandeiristas que já conheci. Luiz me contou sobre a sua luta contra o alcoolismo. Depoimentos impressionantes, quando ainda morava na Rua da Padaria de Ranulfo, ou Beco de Ranulfo, como bem queiram chamar. Também sobre a sua passagem pelo Rio de Janeiro, um tanto jovem e cheio de vida. Um homem de voz personalizada e forte; o cantor das orquestras carnavalescas e das serestas.
Na sua época o único recurso no começo de que dispunha para aprender as músicas era simplesmente o rádio. Nos anos 70 gravou com Edmílson e Sua Gente um compacto; em 1981 fiz parte com ele do grupo Edmílson e Sua Gente. Nessa época eu tinha apenas 21 anos. Tempos depois esse mesmo grupo receberia o nome de Filhos da Terra. Em 1987 toquei com ele no Grupo Seresteiro Luar do Sertão, onde também participavam os músicos Nilton Mendes, Luiz Alventino, Cícero do Bandolim da cidade de Diamante e os percursionistas Damião do Cantinho e o saudoso Zeilton Cabaça. Uma das músicas que ele tocava e que ainda está entoada nos meus ouvidos é um bolero que se chama “Marise”. Marise, hoje eu vivo a sonhar.... E também Nossos Momentos.
A última vez que nos encontramos foi na calçada da Companhia de Polícia Militar e ele, cheio de entusiasmo, falava sobre o seu CD que estaria sendo produzido por Radegundis e Sandoval, seu sobrinho. Ele também me falou que estava com tireóide e talvez esse problema interferisse na sua voz; também a sua idade já se distanciava do vigor da juventude. Doba, seu irmão, me relatou que Luiz sempre dizia, na sua ansiedade de cantor, que o seu CD, custasse o que custasse, faria imenso esforço para consumá-lo, nem que fosse a última coisa da sua vida. Luiz Benedito se imortaliza com esse CD que deixou gravado, um homem de prestígio diferente de outras grandes vozes que não tiveram a mesma sorte por falta talvez da tecnologia, como Anatólio, Natinho da Sinuca e o saudoso amigo Fragoso, dentre outros mais que não me lembro, não ouvi falar ou não foram do meu tempo, exceto os músicos de partitura como Antônio Benedito, Pedoca de Piancó e outros que deixaram suas composições escritas na pauta. Luiz Benedito nos deixou um exemplo que passo a interpretá-lo ao meu próprio modo de pensar: pensemos no amanhã; não brinquemos com o tempo, que por uma fatalidade qualquer poderá nos ser negado, pois por um simples descuido a nossa construção poderá ficar apenas no projeto ou talvez no alicerce.
Zé do agreste - músico de Itaporanga.
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